quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Coluna do Prof. Cleber Sgarbi

        Em que momento o atleta de alto rendimento deve parar?
   Para se tornar um atleta de alto rendimento, no mundo moderno, é necessário ter disciplina para treinar por muitos anos, dedicação quase que exclusiva para o esporte e, em geral, iniciar a carreira esportiva em idades muito precoces. É grande a expectativa dos jogadores de alto nível de se tornarem atletas de sucesso nacional e internacional. Neste contexto, os atletas profissionais ganham como consequência, vantagens econômicas, notoriedade e prestigio. Para esses atletas, o esporte é a fonte de energia para sua vida.
     Mas após anos de dedicação, por razoes diversas, defrontam-se com o processo final de sua carreira. É quando (a maioria) descobrem que não estão preparados para enfrentar uma vida pós-esporte, pois a maioria negligenciou a necessidade de um preparo para esse momento, iludida de que a fama iria durar para sempre. Dessa forma, a aposentadoria pode gerar uma situação de estresse e de crise de identidade para muitos atletas. (Winterstein et al.)
     Terminar a carreira, pode se tornar um dos maiores desafios da vida de um atleta, já que a mudança do estilo de vida requer uma adaptação de papeis sociais e profissionais. Em sua maioria, os atletas não percebem a importância de outras fontes de sobrevivência, indispensáveis para a manutenção do equilíbrio pessoal durante e após o final da carreira.
Segundo RUBIO (1997), “Na relação entre o ego e o desempenho de papeis sociais, muitas vezes o atleta se vê identificado com a figura espetacular sugerida pela condição de esportista, aquele capaz de realizar grandes feitos, dificultando sua participação em situações da vida cotidiana e em outras atividades sociais”.
     A aposentadoria pode ser caracterizada por uma crise, alívio, ou uma combinação de ambos, dependendo da percepção dos atletas frente ao momento em que ela ocorre. É fato, deixar os gramados é muito mais difícil que possa parecer, pois sempre requer adaptação de papéis sociais e profissionais. Essa adaptação torna-se ainda mais difícil quando o atleta tem forte identificação com a empresa. O goleiro do Palmeiras está deixando os gramados este ano, certamente uma decisão muito complicada e difícil.

Marcos Roberto Silveira dos Reis, ou apenas São Marcos

    Essa data (04/01/2012) vai entrar para a história do futebol brasileiro por marcar a despedida oficial de um dos melhores goleiros que o Brasil já teve. Aos 39 anos anunciou sua aposentadoria nesta última quarta-feira. Após uma longa conversa o gerente de futebol César Sampaio, o goleiro alviverde comunicou sua decisão de encerrar sua carreira.
Marcos começou sua carreira vitoriosa no Lençoense em 1990 e transferiu-se para o Palmeiras dois anos depois ainda pelas divisões de base e nunca mais deixou o Palestra Itália. Em 1999, com a contusão do então goleiro Velloso, Marcos assumiu a titularidade para nunca mais sair da história do Clube, pelo qual disputou 532 jogos.
      O maior ídolo a história recente do Palmeiras, um dos destaques do Penta da Seleção Brasileira na Copa do Mundo – Japão, cansou do desgaste da profissão, das exigências do dia-dia e tomou a decisão mais importante até o memento em sua carreira, a decisão de parar de fazer o que mais gosta.
     Acredito que uma decisão tão dura e difícil como esta, dever ser tomada com muita calma, melhor ainda é ser preparar para o dia “D”. É uma decisão pessoal, ninguém sabe ao certo qual é o momento, só quem sabe é o próprio atleta.

 Marcos no Palmeiras e na Seleção campeão do mundo em 2002     
                    


Fonte:
    Winterstein P, Brandão MRF, Pinheiro C, Agresta M, Akel CM, Martini L. Transition in sports career in brazilian professional soccer players. Programme and Proceedings of the 10th World Congress of Sport Psychology; 2001 May 28-Jun 2; Skiathos, Greece.
Rubio K. O atleta e o mito do herói: o imaginário esportivo contemporâneo. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001.

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