sábado, 10 de dezembro de 2011

Reportagem Especial sobre Leandro Vuaden


        Leandro Pedro Vuaden, 36 anos, passou neste ano pela maior provação de sua trajetória na arbitragem. Em 81 dias, foi da reprovação em teste físico – que o afastou do quadro de arbitragem e colocou 14 anos de carreira em risco – a láurea de melhor árbitro do Brasileirão. O próprio Vuaden define 2011 como o pior e o melhor ano desde que começou a silvar um apito.
      Só em um país como o Brasil, que respira futebol alguém pode nascer árbitro. Porque Vuaden não se enquadra no perfil de ex-jogador frustrado. Nascido em 29 de junho de 1975, em Roca Sales, conta que desde os 10 anos, quando o pai Olavo Antônio treinava equipes amadoras, já sentia atração pela função.
    - Eu ia junto e queria apitar nem que fosse um segundinho. É difícil explicar, mas os cartões e o apito já me fascinavam.
     Apitou sua primeira partida aos 14 anos, quando ainda dividia seu tempo entre os estudos e a ajuda aos pais na lavoura de soja e milho. Forjado na rude escola do futebol amador, atuou em partidas com o bafo na nuca até os 20 anos. A relação com a arbitragem mudou depois de um baile em Estrela, a 25 quilômetros de Roca Sales. Nele, conheceu Jaqueline, que viria a ser mãe dos seus dois filhos, Felipe William (14) e Pedro Luís (4). Casou-se em 1997 e mudou-se para o município de 30 mil habitantes – entre eles o auxiliar Fifa Altemir Hausmann. Em um encontro casual, na saída de um banco, Vuaden se apresentou a Altemir e disse da vontade de fazer o curso da Federação Gaúcha. Trocaram contatos e, meses depois, o bandeira comunicou-o da abertura das inscrições.

       Em 1997, Vuaden se tornou árbitro de carteirinha e começou sua carreira pelo interior. Orgulha-se de nunca ter pedido para ser escalado. Galgou todos os degraus e consolidou seu estilo de conduzir o jogo, até obter o escudo da Fifa, em 2009, ano em que passou a viver apenas da arbitragem. Estava no topo. Até o último 15 de setembro...
        Naquele dia, o fôlego de um rechonchudo Vuaden foi insuficiente para superar o testa da CBF, no Rio. E o coração nem precisou voltar a freqüência normal para ele entender o que significava a reprovação para um árbitro Fifa. Prometeu a si mesmo: se rodasse no próximo, largaria a arbitragem.
        Preocupado, afinal árbitro sem jogo é árbitro sem salário. Vuaden retornou a Estrela. Seu futuro se decidira em 32 dias. Precisava de ajuda e, aconselhado por um compadre, foi buscá-la.
        - Foi um período triste, mas de reflexão. Nunca havia entrado numa academia. Esse incidente me trouxe uma lição muito grande – revela.
         Quando Vuaden chegou a FitVale academia de Lajeado, faltavam 20 dias para o novo teste
      - Ele estava apreensivo, mas muito determinado. Fizemos uma avaliação física e começamos a trabalhar visando somente a prova, não tínhamos tempo – conta Carlos Chagas, sócio proprietário e professor da academia.


        Em 18 de outubro, Vuaden retornou ao quadro de árbitros. Atualmente, é monitorado por sete profissionais, de personal trainers a acupunturista, que organizam um cronograma rígido de exercícios. Voltou às escalas tão atleta quanto os jogadores, que se inibiam para reclamar ao verem Vuaden em cima dos lances. Terminou o ano apitando o Gre-Nal sem ser notado. A reprovação foi apenas um tropeço no caminho até 2014.

Irmãos Gre-Nal
       
       O futebol entre os Vuaden se propagou como na maioria das famílias brasileiras: de pai para filho. Acompanhando o pai, Orlando Otávio, nos jogos amadores, Leandro se interessou pela arbitragem. A relação do pai árbitro com o futebol atraiu Felipe e Pedro, seus dois filhos.
       Incentivado pelo avô, Felipe virou gremista. Já o pequeno se interessou por um boné ganho por Vuaden após comandar uma partida do Inter – é tradição os clubes darem brindes para os árbitros. Foi o sinal que os padrinhos, todos colorados, precisavam para comprar um kit infantil para vestir Pedro de vermelho.
        Vuaden conversou sobre o assunto com a apresentadora Fernanda Zaffari, no programa TVCOM Tudo Mais, na noite de quinta-feira:
       - Evidentemente que os meus filhos vão ser torcedores de A ou B. Como pai não posso impedi-los. Seria um absurdo. Agora, o pai do Felipe e do Pedro, procura fazer coisas certas dentro daquilo que a sua profissão, mesmo que não regulamentada, exige.


Jornal Zero Hora

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