Leandro Pedro Vuaden, 36 anos, passou neste ano pela maior provação de sua trajetória na arbitragem. Em 81 dias, foi da reprovação em teste físico – que o afastou do quadro de arbitragem e colocou 14 anos de carreira em risco – a láurea de melhor árbitro do Brasileirão. O próprio Vuaden define 2011 como o pior e o melhor ano desde que começou a silvar um apito.
Só em um país como o Brasil, que respira futebol alguém pode nascer árbitro. Porque Vuaden não se enquadra no perfil de ex-jogador frustrado. Nascido em 29 de junho de 1975, em Roca Sales, conta que desde os 10 anos, quando o pai Olavo Antônio treinava equipes amadoras, já sentia atração pela função.
- Eu ia junto e queria apitar nem que fosse um segundinho. É difícil explicar, mas os cartões e o apito já me fascinavam.
Apitou sua primeira partida aos 14 anos, quando ainda dividia seu tempo entre os estudos e a ajuda aos pais na lavoura de soja e milho. Forjado na rude escola do futebol amador, atuou em partidas com o bafo na nuca até os 20 anos. A relação com a arbitragem mudou depois de um baile em Estrela, a 25 quilômetros de Roca Sales. Nele, conheceu Jaqueline, que viria a ser mãe dos seus dois filhos, Felipe William (14) e Pedro Luís (4). Casou-se em 1997 e mudou-se para o município de 30 mil habitantes – entre eles o auxiliar Fifa Altemir Hausmann. Em um encontro casual, na saída de um banco, Vuaden se apresentou a Altemir e disse da vontade de fazer o curso da Federação Gaúcha. Trocaram contatos e, meses depois, o bandeira comunicou-o da abertura das inscrições.
Em 1997, Vuaden se tornou árbitro de carteirinha e começou sua carreira pelo interior. Orgulha-se de nunca ter pedido para ser escalado. Galgou todos os degraus e consolidou seu estilo de conduzir o jogo, até obter o escudo da Fifa, em 2009, ano em que passou a viver apenas da arbitragem. Estava no topo. Até o último 15 de setembro...
Naquele dia, o fôlego de um rechonchudo Vuaden foi insuficiente para superar o testa da CBF, no Rio. E o coração nem precisou voltar a freqüência normal para ele entender o que significava a reprovação para um árbitro Fifa. Prometeu a si mesmo: se rodasse no próximo, largaria a arbitragem.
Preocupado, afinal árbitro sem jogo é árbitro sem salário. Vuaden retornou a Estrela. Seu futuro se decidira em 32 dias. Precisava de ajuda e, aconselhado por um compadre, foi buscá-la.
- Foi um período triste, mas de reflexão. Nunca havia entrado numa academia. Esse incidente me trouxe uma lição muito grande – revela.
Quando Vuaden chegou a FitVale academia de Lajeado, faltavam 20 dias para o novo teste
- Ele estava apreensivo, mas muito determinado. Fizemos uma avaliação física e começamos a trabalhar visando somente a prova, não tínhamos tempo – conta Carlos Chagas, sócio proprietário e professor da academia.
Em 18 de outubro, Vuaden retornou ao quadro de árbitros. Atualmente, é monitorado por sete profissionais, de personal trainers a acupunturista, que organizam um cronograma rígido de exercícios. Voltou às escalas tão atleta quanto os jogadores, que se inibiam para reclamar ao verem Vuaden em cima dos lances. Terminou o ano apitando o Gre-Nal sem ser notado. A reprovação foi apenas um tropeço no caminho até 2014.
Irmãos Gre-Nal
O futebol entre os Vuaden se propagou como na maioria das famílias brasileiras: de pai para filho. Acompanhando o pai, Orlando Otávio, nos jogos amadores, Leandro se interessou pela arbitragem. A relação do pai árbitro com o futebol atraiu Felipe e Pedro, seus dois filhos.
Incentivado pelo avô, Felipe virou gremista. Já o pequeno se interessou por um boné ganho por Vuaden após comandar uma partida do Inter – é tradição os clubes darem brindes para os árbitros. Foi o sinal que os padrinhos, todos colorados, precisavam para comprar um kit infantil para vestir Pedro de vermelho.
Vuaden conversou sobre o assunto com a apresentadora Fernanda Zaffari, no programa TVCOM Tudo Mais, na noite de quinta-feira:
- Evidentemente que os meus filhos vão ser torcedores de A ou B. Como pai não posso impedi-los. Seria um absurdo. Agora, o pai do Felipe e do Pedro, procura fazer coisas certas dentro daquilo que a sua profissão, mesmo que não regulamentada, exige.
Jornal Zero Hora
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