sábado, 17 de dezembro de 2011

Cinco anos depois, Gabiru revela mágoa: 'Não iria a uma festa do Inter'

                header 5 anos do mundial de clubes (Foto: arte esporte)
     O exílio em Curitiba alargou a ferida aberta na relação entre Adriano Gabiru e o Inter. A fala mansa em frases curtas e diretas ao telefone deixa escapar um profundo ressentimento do jogador que saiu da reserva para fazer o gol mais importante da história do clube, na decisão do Mundial de Clubes contra o Barcelona, em dezembro de 2006. À espera de um clube, Gabiru, 34 anos, vive seus dias de anonimato como um herói marcado pela mágoa.
     - Me colocaram para escanteio - afirmou, em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM.
Adriano Gabiru em sua casa em Curitiba lembra o Mundial com o Inter (Foto: Joka Madruga/Especial)
Entre boas lembranças e mágoas, Gabiru mira chuteira que usou no Mundial  (Foto: Joka Madruga/Especial
       Gabiru se refere à sua saída do clube - como se fosse pela portas dos fundos - menos de cinco meses após o Mundial. Parecia que o gol diante dos catalães havia amainado um ano de críticas da torcida e rotina no banco de reservas. No apoteótico retorno a Porto Alegre, gritos de “Me perdoa, Gabiru” preenchiam as ruas da cidade. Do alto do carro de Corpo de Bombeiros, viu, em meio ao mar vermelho da Avenida Beira-Rio, uma faixa com a apaixonada constatação: “Gabiru é melhor que Ronaldinho”.
      Depois do Inter, jogou no Figueira, Sport, Goiás, Guarani e Mixto. O Corinthians-PR foi seu último clube, no primeiro semestre.
      O começo de 2007, no entanto, tisnou o encanto. Más atuações no Gauchão e a saída de Abel Braga (Alexandre Gallo assumiu) fizeram Gabiru revisitar os dias de luta pré-Mundial. Rumou ao Figueirense, onde durou poucos meses, e de lá e foi repassado ao Sport, de Recife. Na celebração de um ano do título, os gestos de reconhecimento da torcida se repetiram num Gigantinho lotado. Ali, Gabiru já era um visitante. Parecia que estava tudo bem. Nem tanto. A mágoa com o clube perdurou.
      - Claro que perdoei a torcida, sou um cara tranquilo. Mas acho que não iria mais a uma festa do Inter se fosse convidado novamente. Pelo que fizeram comigo. Naquele momento, fiquei com raiva. Agora, não. Fico mesmo meio chateado de sair daquela maneira, treinando em separado. Mas fazer o quê? Futebol é assim. Sempre tem um para ser julgado. Caía tudo nas minhas costas.
    Ressentimentos à parte, o fato é que Gabiru não engrenou. Imperava a ideia nos corredores do Beira-Rio que não lhe faltava qualidade técnica. O problema do meia estava na sua rotina desregrada longe dos gramados. Tanto que a boa forma de Gabiru no Mundial não surpreendeu dirigentes e comissão técnica. Concentrado durante 20 longos dias em terras frias e introspectivas do Japão, o jogador rendeu, a ponto de impressionar. Num treino, lhe coube simular os movimentos de Ronaldinho, então grande craque do Barcelona. Abel deixou o trabalho exultante, mãos ao alto:
      - Pô, o cara acabou com o meu treino!
      - Lá, eu treinei bem, treinei sério - confirma o atleta. - Estava preparado.
     Claro que perdoei a torcida, sou um cara tranquilo. Mas acho que não iria mais a uma festa do Inter se fosse convidado novamente"
                         
      A entrevista foi com Gabiru, mas talvez o nome mais citado tenha sido o de Abel. O jogador coloca na conta do técnico a “culpa” por sua ida ao Mundial. Gabiru confessa que sequer esperava viajar. Substituir o capitão Fernandão diante do Barcelona estaria mais para um rotundo devaneio.
      - Eu fiquei meio assim, né? Estava mal no Brasileirão - reconhece. - Mas o Abel teve personalidade e me escolheu.
      Apesar de não ser citado, Fernando Carvalho também merece um pouco dos créditos pela improvável redenção de Gabiru em Yokohama. Afinal, o presidente do clube na época do Mundial tentava contratar o meia desde 2002, ainda em seu primeiro mandato. Só conseguiu em 2006.
       A insistência valeu a pena. O gol sobre o Barcelona valeu por mil. É inclusive capaz de tirar a passividade da voz de Gabiru e levá-lo um plano mais ameno, sem ressentimentos e lembranças desagradáveis. Ao descrever os momentos que o conectaram com a eternidade, mescla humildade com pitadas de humor. Espontâneo, não enfeita, fala o que pensa, o que acha que realmente tenha acontecido naquele 17 de dezembro que ainda não terminou.
      - Eu fui acompanhando a jogada. Nunca imaginei que fosse fazer o gol. Ela quicou, e eu chutei. Depois me perguntaram por que eu não driblei o goleiro... Se eu fosse do nível de um Ronaldinho, tudo bem, até poderia - justifica, já se esquecendo da carinhosa faixa que havia avistado há cinco anos na multidão.
      Ela é uma prova de que, para os colorados, sim, “Gabiru é melhor que Ronaldinho”.

Globoesporte

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