Em busca do 'velho' Victor: após ano difícil, goleiro mira grandes títulos

      - Victor! Victor!

    O grito estridente sai de Suellen Oliveira, 15 anos, separada do goleiro gremista por duas fileiras de grades e dezenas de metros. Enquanto o goleiro se prepara para deixar o Olímpico após o penúltimo treino de 2011, a fã suplica por uma foto, um autógrafo, qualquer lembrança. Nem parece que o jogador encerra uma temporada inconstante, de falhas antes impensáveis e distante das costumeiras defesas milagrosas. Um ano que ele próprio busca esquecer. Victor já pendurou na parede o calendário de 2012.

    - As críticas estão corretas. Acabei oscilando demais este ano - analisa, tranquilo como se estivesse já curtindo as férias na sua Santo Anastácio, no interior paulista, ao lado da esposa Giseli.

                         

     Resignado, Victor absorve as análises, mas também procura argumentos para rebatê-las. Pondera que manter o ritmo de temporadas irretocáveis era uma missão quase impossível. Foi o melhor goleiro do Brasileirão em 2008 e 2009. No ano passado, ainda conseguiu figurar como finalista entre os três mais destacados. Desta vez, passou longe do prêmio Craque do Brasileirão.

    Algumas falhas individuais marcaram como tatuagem. Questionado sobre os lances, Victor tenta, procura, mas não encontra explicação. "Era para ter acontecido", alega. Diante do Flamengo, no primeiro turno, talvez a mais alarmante, justamente por estar apartada da sobriedade habitual de Victor. Tentou driblar Ronaldinho, levou a pior e viu a bola roçar a rede. Também foi alvo de desconfiança no Gre-Nal que decidiu o Gauchão, em maio, ao derrubar Zé Roberto na área e permitir o pênalti, depois convertido por D'Alessandro. Diante do Figueirense, em jogo-chave em outubro, não conseguiu segurar chute de Wellington Nem.

    - Nunca deixei de treinar, de me dedicar. Sou sempre o último a sair o campo - justifica.

     Mas a queda de rendimento não se restringe ao camisa 1. O time do Grêmio ruiu em 2011. Passou por três técnicos, não firmou uma base sólida e ainda deixou o Brasileirão com o pior aproveitamento do clube desde o retorno à elite em 2006.

      - O momento do time também reflete na atuação do jogador - se defende.

      Convicto, o goleiro descarta mudar seu estilo ou rotina no ano que se aproxima. O bom e velho Victor deve voltar ao natural, supõe. Assim como uma nova chance na Seleção Brasileira, o que não acontece desde agosto, no amistoso contra a Alemanha. Desde lá, já são sete jogos sem o gremista, que começou a era Mano Menezes como titular.

"Não será qualquer proposta que vai me tirar do Grêmio"

       Caio Júnior que se prepare, portanto, para os questionamentos. O goleiro, 28 anos, descarta um adeus tão cedo, prevê vida longa no Grêmio. Dono de um dos maiores salários do Olímpico, protagoniza um "grandioso" plano de carreira, como o próprio define, com contrato até 2015. Já perdeu a conta das vezes em que foi assediado pelo futebol europeu. Especulam-se propostas italianas, turcas e de outros centros importantes. Em toda janela de transferências, aterrissa algum empresário pronto a sondá-lo.

Victor recebe homenagem pelos 200 jogos com a
camisa do clube em julho (Foto: Divulgação / Grêmio)

       Uma recente pesquisa comprova a preferência e coloca Victor entre os 20 atletas mais valiosos atuando no Brasil - o único goleiro. Até o momento, no entanto, a resposta do jogador vem se repetindo, pouco importando a língua da proposta: não, sempre não.

       - Ainda não apareceu nada que tenha me seduzido. Não será qualquer proposta que vai me tirar do Grêmio - promete o goleiro, dono de uma casa de sugestiva cor azul na Zona Sul de Porto Alegre, e que já se vê defendendo as traves gremistas na Arena, novo estádio previsto para ser inaugurado em um ano.

       Bom para a jovem Suellen, que deixou o Olímpico naquela tarde sem o autógrafo e a foto tão sonhadas com o ídolo. Pelo que aponta Victor, ela terá tempo de sobra para voltar ao Olímpico e tentar de novo. Assim como o goleiro. Em 2012, Victor só pensa em tentar de novo. E, desta vez, somente acertar.

Globoesporte